Nietzsche |
Nietzsche sobre o socialismo:
"O socialismo é o fantasioso irmão mais jovem do quase decrépito despotismo, do qual quer herdar; suas aspirações, são, portanto, no sentido mais profundo, reacionárias. Pois ele deseja uma plenitude de poder estatal como só a teve alguma vez o despotismo, e até mesmo supera todo o passado por aspirar ao aniquilamento formal do indivíduo: o qual lhe aparece como um injustificado luxo da natureza e deve ser transformado e melhorado por ele em um órgão da comunidade adequado a seus fins.
Em virtude de seu parentesco, ele aparece sempre na proximidade de todos os excessivos desdobramentos de potência, como o antigo socialista típico, Platão, na corte do tirano siciliano: ele deseja (e propicia sob certas circunstâncias) o Estado ditatorial cesáreo deste século, porque, como foi dito, quer ser seu herdeiro.
Mas mesmo essa herança não bastaria para seus fins, ele precisa de mais servil submissão de todos os cidadãos ao Estado incondicionado como nunca existiu algo igual; e como nem sequer pode contar mais com a antiga piedade religiosa para com o Estado, mas antes, sem querer, tem de trabalhar constantemente por sua eliminação – a saber, porque trabalha pela eliminação de todos os Estados vigentes -, só pode ter esperança de existência, aqui e ali, por tempos curtos, através do extremo terrorismo.
Por isso prepara-se em surdina para dominar pelo pavor e inculca nas massas semicultas a palavra ‘justiça’ como um prego na cabeça, para despojá-las totalmente de seu entendimento (depois que esse entendimento já sofreu muito através da semicultura) e criar nelas, para o mau jogo que devem jogar, uma boa consciência.
O socialismo pode servir para ensinar, bem brutal e impositivamente, o perigo de todos os acúmulos de poder estatal e, nessa medida, infundir desconfiança diante do próprio Estado.
Quando sua voz rouca se junta ao grito de guerra ‘o máximo possível de Estado’, este, em um primeiro momento, se torna mais ruidoso que nunca. Porém logo irrompe também o oposto, com força ainda maior: ‘o mínimo possível de Estado’.
(Friedrich Nietzsche, "Humano, demasiado humano")
"Os perigosos entre os subversivos.
- Podemos dividir os que pretendem uma subversão da sociedade entre aqueles que desejam alcançar algo para si e aqueles que o desejam para seus filhos e netos.
Esses últimos são os mais perigosos; porque têm a fé e a boa consciência do desinteresse.
Os demais podem ser contentados com um osso: a sociedade dominante é rica e inteligente o
bastante para isso.
O perigo começa quando os objetivos se tornam impessoais; os revolucionários movidos por interesse impessoal podem considerar todos os defensores da ordem vigente como pessoalmente interessados, sentindo-se então superiores a eles."
(Friedrich Nietzsche, "Humano, demasiado humano")
"Uma ilusão na doutrina da subversão.
Há visionários políticos e sociais que com eloquência e fogosidade pedem a subversão de toda ordem, na crença de que logo em seguida o mais altivo templo da bela humanidade se erguerá por si só.
Nestes sonhos perigosos ainda ecoa a superstição de Rousseau, que acredita numa miraculosa, primordial, mas, digamos, soterrada bondade da natureza humana, e que culpa por esse soterramento as instituições da cultura, na forma de sociedade, Estado, educação.
Infelizmente aprendemos, com a história, que toda subversão desse tipo traz a ressurreição das mais selvagens energias, dos terrores e excessos das mais remotas épocas, há muito tempo sepultados: e que, portanto, uma subversão pode ser fonte de energia numa humanidade cansada, mas nunca é organizadora, arquiteta, artista, aperfeiçoadora da natureza humana.
- Não foi a natureza moderada de Voltaire, com seu pendor a ordenar, purificar e modificar, mas sim as apaixonadas tolices e meias verdades de Rousseau que despertaram o espírito otimista da Revolução, contra o qual eu grito: "Ecrasez l'infâme [Esmaguem o infame]!.
Graças a ele o espírito do Iluminismo e da progressiva evolução foi por muito tempo afugentado: vejamos - cada qual dentro de si - se é possível chamá-lo de volta!"
(Friedrich Nietzsche, "Humano, demasiado humano")
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